Occupy Wall Street

Occupy Wall Street – Os Restantes 99%

Para aqueles distraídos, este movimento iniciou-se online alertando o publico da falta de espaço para debate. O movimento inicial utilizou a tecnologia para fomentar um espírito jovem capaz de criar media, espaços públicos para debate e comunidades.

Occupy Wall Street

Ativistas, auto intitulados Occupy Wall Street, começaram a juntar-se em Lower Manhattan, unindo-se contra as condições económicas atuais nos Estados Unidos. No inicio eram pouco mais de 200 pessoas numa pequena zona verde no distrito financeiro, Zuccotti Park.

Para aqueles distraídos, este movimento iniciou-se online alertando o publico da falta de espaço para debate. O movimento inicial utilizou a tecnologia para fomentar um espírito jovem capaz de criar media, espaços públicos para debate e comunidades – uma verdadeira mudança de cultura que cresce através de conversas e relações – online e offline.

A ironia é que este movimento está a ser alimentado pela experiência online muitas vezes criticada por ser pouco humano, supostamente criando um distanciamento nos que se conectam.

Se por um lado, ficou claro que os protestos eram contra Wall Street, por outro, não é nada claro o que procuram como resultado, e é ai que em grande parte este movimento torna-se algo confuso, e assim sendo, pouco previsível – um possível perigo.

O numero de manifestantes só foi superado pelo numero de mensagens que surgiram durante a manifestação – é que “existem demasiadas questões, é impossível ter só uma exigência” dizia um dos manifestantes. Mas o tema central acaba por se centrar em torno de Wall Street – enquanto a mesma ganha a vasta maioria (referencia de os 99%) perde.

Occupy Wall Street

No inicio, os protestos foram recebidos pela policia e inúmeras foram as pessoas que foram presas. Para as autoridades, este tipo de situação nunca tem um final feliz – se por um lado não fazem nada, os protestos certamente vão continuar e possivelmente aumentar, se por outro, ao existir um confronto com as autoridades, é certo que o movimento vai aumentar rapidamente com a utilização de social media. Occupy Wall Street acabou por não desiludir. Estamos agora com mais de 4 semanas de protestos e o movimento já se tornou viral, online e offline.

Mas a mesma pergunta continua no ar – enquanto os protestos aumentam em tamanho e em alcance, poderá o mesmo desenvolver uma causa especifica com as respectivas exigências, ou a ausência do mesmo será o fim do movimento?

O Presidente Obama já se pronunciou, cuidadosamente movendo-se entre a espada e a parede. Obama concedeu que as demonstrações contra Wall Street em Nova Iorque, e agora noutras cidades, surgem da frustração com o sector financeiro. Mas Obama também já indicou que está satisfeito com as “alterações” no sector mesmo que em grande parte os bancos, resgatados pelos contribuintes, estão novamente a pagar ordenados milionários e a registar lucros desproporcionais.

httpv://www.youtube.com/watch?v=cjqqtx57YNc

Enquanto o movimento vai se espalhando pelos Estados Unidos e agora atravessa o Atlântico para outras cidades, aqueles que se envolveram desde o inicio, começam a demonstrar sinais de frustração. Não existe ainda uma lista concreta de exigências, e muitos começam a sentir que a causa poderá fazer pouco mais que desviar as atenções dos problemas que cada um tem em casa, resultado esse da crise económica.

Mas porquê agora? Afinal a crise económica já vai no final do seu terceiro ano. Jeremi Suri, professor de história na University of Texas, e autor do seu mais recente livro, “Liberty’s Surest Guardian”, explica que existem duas questões centrais.

Em primeiro lugar, protestos raramente ocorrem logo após o evento levando em geral algum tempo para organizar – leva tempo para as pessoas aderirem, comunicarem e formarem um espírito de comunidade. Em segundo lugar, e mais relevante, este movimento não surge da crise económica que iniciou em 2008, mas sim do medo que o futuro poderá trazer – cortes na educação, na segurança social e uma continuação de um nível de desemprego insuportável – tudo isto, enquanto o sector financeiro continua a ganhar com a crise.

A falta de culpabilidade ofende a maioria, dado que sem ofensores, as vitimas não se sentem percebidas nem a sua existência reconhecida. E isso preocupa ainda mais os 99% – o futuro será novamente melhor para os 1%.

Mas não devemos subestimar este movimento sendo que o mesmo ocorre no país mais rico do mundo e repleto de optimismo. Os americanos são conhecidos por acreditarem sair de recessões mais poderosos do que quando entraram. Mas a duração desta crise financeira e falta de resultados, muito pequenos que fossem, deita cinza nesta fogueira – a suposição que tudo ficará bem.

A falta de um tema, ou uma causa comum, além do descontentamento com a atual conjuntura, torna tudo isto num incógnito. Relembra os movimentos dos anos 60 onde a falta de uma visão claro com objetivos concretos fez com que pouco ou nada resultasse das manifestações. É fundamental estar contra algo, mas de igual forma é necessário estar a favor de algo e infelizmente este movimento não está a oferecer uma alternativa coerente e coesa ao sistema capitalista atual. Só com tempo vamos perceber para onde este movimento segue, mas o seu crescimento viral é preocupante e sem precedentes – afinal o que é que as autoridades lutam contra? O que pode ser analisado para procurar uma solução?

Occupy Wall Street

Interessante é que este tipo de movimento atrai sempre os “empreendedores de protestos” – aqueles que vêm uma oportunidade neste tipo de situação e sugerem um tema para o movimento apadrinhar. Historicamente, as ideias que surgem não são novas – de facto são antigas só que nunca conseguiram sangrar. Um exemplo é o Marxismo, ideias criadas no meio do XVIIII século que só se tornaram geralmente conhecidas no século seguinte.

A ironia deste tipo de movimento é que não são os verdadeiramente afectados que acabam por manifestar – aqueles que sofrem mais estão ou a trabalhar ou a tentar lidar com a sua pobreza. Os manifestantes são em grande parte aqueles que têm tempo, formas de comunicar, capazes de intercambiar ideias e possuem os recursos para se alimentar enquanto lá estão.

No que concerne à alimentação de todos estes manifestantes, eles parecem estar a viver de pizza, e como em tudo, alguém vê sempre uma oportunidade. Neste caso, a Liberatos Pizza, a poucos metros da manifestação de Nova Iorque, a loja de pizzas, não só começou aceitar pagamentos de quem queria contribuir para a causa, entregando pizzas pagas aos manifestantes, criou também uma grande empada (pie) com o nome de “Occu-Pie” por $15 USD – na primeira hora vendeu 500.

Se o problema é a falta de tema coerente, a ausência do mesmo só dificulta a reação de Wall Street e do Congresso Americano na criação de uma narrativa persuasiva passível de acabar com todo este movimento. Por agora podemos esperar um continuo crescimento do movimento.

Occupy Wall Street

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  1. Muito bem observado, Nuno. Especialmente aqui, quando diz:

    “Não existe ainda uma lista concreta de exigências, e muitos começam a sentir que a causa poderá fazer pouco mais que desviar as atenções dos problemas que cada um tem em casa, resultado esse da crise económica.”

    Acho que isso tudo é mais complexo do que um mero dispositivo maniqueísta de “ou vc não nada ou você faz alguma coisa”. E vc tem razão qdo diz que só com o tempo vamos ver o “resultado” disso tudo.
    Eu sou muito pessimista em relação àquelas que pessoas que estão lá protestando, perdidas no meio das suas ideologias (?). Não pode ser assim. A toca do coelho é mais profunda, Alice.

    Outra coisa, A imprensa alemã (onde vivo) tem olhado um bocado desconfiada para estes protestos. Especialmente o que houve aqui semana passada «occupy Berlin». Berlin é uma cidade pobre, sem bancos, onde a juventude alemã não sabe “muito bem” qual é a causa do problema (e o que é o problema em si).

    Eu mesmo já falei disso por aqui: http://prepuciocomqueijo.blogspot.com/2011/10/as-mascaras-de-uma-revolucao.html a respeito das máscaras que eles usam e não sabem bem porquê.

    Um Abraço,
    Wellington

  2. Muito bem observado, Nuno. Especialmente aqui, quando diz:

    “Não existe ainda uma lista concreta de exigências, e muitos começam a sentir que a causa poderá fazer pouco mais que desviar as atenções dos problemas que cada um tem em casa, resultado esse da crise económica.”

    Acho que isso tudo é mais complexo do que um mero dispositivo maniqueísta de “ou vc não nada ou você faz alguma coisa”. E vc tem razão qdo diz que só com o tempo vamos ver o “resultado” disso tudo.
    Eu sou muito pessimista em relação àquelas que pessoas que estão lá protestando, perdidas no meio das suas ideologias (?). Não pode ser assim. A toca do coelho é mais profunda, Alice.

    Outra coisa, A imprensa alemã (onde vivo) tem olhado um bocado desconfiada para estes protestos. Especialmente o que houve aqui semana passada «occupy Berlin». Berlin é uma cidade pobre, sem bancos, onde a juventude alemã não sabe “muito bem” qual é a causa do problema (e o que é o problema em si).

    Eu mesmo já falei disso por aqui: http://prepuciocomqueijo.blogspot.com/2011/10/as-mascaras-de-uma-revolucao.html a respeito das máscaras que eles usam e não sabem bem porquê.

    Um Abraço,
    Wellington

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