Na eterna luta (leia-se discussão) de open vs. closed, iOS vs. Android, existem duas linhas de pensamento – a flexibilidade e escolha, com os seus riscos, ou a uniformização com o seu conforto e limitações. Mas ambos têm algo em comum.
Conforme Bruce Schneier, na era de computadores e da Internet, nós os utilizadores, tornamo-nos dependentes da proteção dos lordes feudais, nomeadamente a Apple, Microsoft, Google e Facebook. Schneider defende a ideia que os consumidores acabam por jurar uma espécie de lealdade a estes gigantes da era da Web, ao entregarem lhes todos os seus dados. Tudo isto com a implícita crença de proteção, segurança e privacidade.
Para alguns, este ato revela uma enorme ignorância e ingenuidade por parte do consumidor. O problema pode não residir tanto no que acontece hoje, mas sim o que possa a vir acontecer com tempo, e em circunstâncias imprevisíveis.
Schneier acredita que não é de todo mau, servirmos os lordes com a confiança e lealdade que comandam. Para o utilizador comum, diz Schneier, ter alguém que controle o sistema, transmite-nos uma maior segurança. O que é esperado é que todas estas empresas mantenham a ordem, mas não a sua ordem. Um dos selling points da app store da Apple, para o utilizador comum, é o processo de validação, protegendo-os do mal que vive alem das paredes do castelo, algo que por defeito acaba por aborrecer muitos dos developers.
Da mesma forma que o feudalismo entregava a maioria do poder aos lordes, a Web, acabou por não ser controlada centralmente por uma entidade única mas está claramente nas mãos de uns poucos. O resultado é a falta de respeito que acaba por existir com os servos e os exemplos são demasiados.
Habituamo-nos a comprar música no iTunes e ebooks na Amazon, através do one-click no caso da Amazon. Só que não estamos na realidade a comprá-los mas sim aluga-los, ou a pagar para ter acesso aos mesmos. Tudo isto com base no entendimento que os lordes vão tomar conta de nós e os nossos interesses.
Mas uma cliente da Amazon viu a sua conta ser cancelada, perdendo acesso a tudo que tinha supostamente “comprado”, relembrando-nos da realidade que nem sempre compreendemos ou até sabemos, o que nos pode um dia acontecer.
Os termos e condições são cada vez mais vastos, muitas vezes semelhantes à relação forçada que temos com o nosso banco. Forçada pois ninguém com o mínimo de consciência iria alguma vez aceitar as condições impostas pelos bancos – como lidamos com isto? Simples – assinar sem ler – a ignorância reina e novamente acreditamos que os lordes vão tomar conta de nós…
Na realidade devíamos ter a possibilidade de levar os nossos dados connosco caso decidíssemos um dia deixar o Facebook, da mesma forma que exportamos e apagamos os números de telefone dos nossos telemóveis quando mudamos de fabricante ou operadora. Mas Facebook, como muitos outros, argumenta que os dados (nossos) pertencem-lhes – o feudalismo no seu melhor.
Mas será que queremos mesmo a liberdade? Duvido. O conforto é demasiado para mudarmos, e existem sempre outras opções, como Android, que nos deixam simular o que poderia ser a verdadeira liberdade. Provavelmente vamos continuar relativamente seguros enquanto os diferentes lordes lutam entre si para controlo, seja através da concorrência, litígio (patentes) ou legislação.
Liars and Outliers: Enabling the Trust that Society Needs to Thrive
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