Papel Higiénico

Acabou de Mudar Tudo, Novamente

Huffington Post ganha um Pulitzer Prize. Afinal Huffington Post não é um blogue, mesmo que misture opinião com facto com birras pessoais – é um jornal digno de um Pulitzer Prize. Ainda bem que não estudei jornalismo – seria um dia muito triste.

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Quem diria há uns anos uns meses atrás que um blogue/jornal iria ganhar um prémio Pulitzer? Huffington Post, ganhou um Pulitzer Prize em National Reporting com uma série de artigos escritos pelo jornalista David Wood que decidiu ir à procura dos soldados que ficaram feridos a lutar pelo seu páis.

A série “Beyond the Battlefield” deu ao Huffington Post o seu primeiro Pulitzer Prize nos seus 7 anos de existência. E porque é que isto é tão importante?

Há 3 anos atrás, um estudo procurava saber quais os blogues e jornais de noticias mais lidos pelo publico Americano com mais de 50 anos de idade. Ninguém imaginou o que poderia surgir destes resultados.

Na lista de blogues, Huffington Post não apareceu nos top 10 mas curioso foi ver o Huffington Post em primeiro lugar dos top 10 dos jornais mais lidos online. Um blogue a ganhar melhor jornal online?

Ficou-se assim a saber que a linha entre jornalismo e blogging estava agora a desaparecer. Na realidade o nome, Huffington Post, soava muito ao jornal mais conhecido americano Washintgon Post. O formato do Huffington Post era também praticamente igual ao de jornais tradicionais online.

Mas a maior diferença era que a maioria dos que escreviam para o Huffington Post não eram jornalistas, não tinham formação e não eram pagos.

Mas algo estranho aconteceu nestes últimos anos. Enquanto bloggers começaram a encontrar a sua voz, o seu tom, a sua forma de estar online, os jornalistas acabaram por copiar o estilo do blogger. A razão era uma única – page views.

A influência de bloggers cresceu e jornalistas como o David Pogue, do New York Times, começaram adaptar-se e a esta nova forma de escrever. Velocidade passou a ser mais importante que a veracidade. Escrevemos agora, pedimos desculpa mais tarde.

Com a crise, vieram os cortes de orçamento resultado da quebra de publicidade nos media tradicional. No inicio, jornais tradicionais passaram o seu conteúdo online sem qualquer estratégia, simplesmente reagindo a blogues.

Só recentemente é que alguns iniciaram a sua estratégia de ter conteúdo pago, para alguns foi tarde de mais. Mas a maior perda não é para os jornalistas, nem para a industria. A maior perda é nossa, o leitor.

Já é demasiado difícil perceber o que é um blogue e o que é um jornal, quem são os bloggers e quem são os jornalistas. Já é tão difícil perceber o que é verdade e o que é mentira – Jon Bon Jovi que o diga pois ele próprio já morreu e reapareceu. Já Steve Jobs apresentava um produto novo com um slide que proclamava ao mundo de jornalismo “reports of my death are greatly exaggerated”, uma citação de Mark Twain depois de saber que o seu obituário teria sido publicado no New York Journal.

O Twitter dá conta de uma revolta em Portugal, demonstra que existiam muitas pessoas que achavam que o RMS Titanic, que se afundou a 15 de Abril 1912, era um mito e revela que existem pessoas com um nível de influência demasiado grande para o seu próprio bem.

A Web está inundada com infographics e estudos de empresas com  um único interesse – vender os seus serviços. É que nem se dão ao trabalho de fazer algo minimamente credível, para não dizer científico. Mas nada perdido pois os jornalistas encontraram também o copy & paste – muito mais rápido, barato e simples.

Quem perde? Nós, leitores, e alguns jornalistas que tentam lutar pelo jornalismo, pela veracidade, pela analise, pelo detalhe e pelas belíssimas histórias que necessitam de ser contadas.

Voltamos então ao Pulitzer Prize que David Wood ganhou. Mas se procurar online, vai ver que o jornalismo tem uma noticia diferente – Huffington Post ganha um Pulitzer Prize. Afinal Huffington Post não é um blogue, mesmo que misture opinião com facto com birras pessoais – é um jornal digno de um Pulitzer Prize. Ainda bem que não estudei jornalismo – seria um dia muito triste.

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