Hoje foi o primeiro grande evento da Apple que está a prestes acabar no museu Guggenheim em Nova Iorque. Ao contrario dos seus mais recentes eventos, este não tem nada a ver com um produto mas sim com a estado da educação e a solução que Apple acredita ter desenvolvido.
O problema prende-se com o custo dos livros, a forma como são disponibilizados (papel) e a falta de interação, um limite dos meios tradicionais. Numa altura em que os adolescentes são considerados os verdadeiros digital natives, não parece certo estar a utilizar métodos de educação desatualizados.
Mas o objetivo da Apple não é propriamente vender livros de escola, mas sim vender iPads, muitos mais iPads. Não é que a venda de livros não lhe afecte, se analisarmos o acréscimo de faturação que as músicas vendidas no iTunes trazem à Apple.
Mas a Apple não está atuar com base num palpito. Phil Schiller, diretor de marketing da Apple, confirmou no palco que a Apple já vendeu mais de 1.5 milhões de iPads para utilização na educação e que a Apple Store já conta com mais de 20,000 apps relacionados com educação.
Com o seu sucesso no mercado, e dado que ainda estão no inicio da grande explosão caso consigam sangrar na educação, os dados do estado da educação nos Estados Unidos só reforçam a oportunidade que está à sua frente – e como sempre, poucos o percebem e estão a preparar uma estratégia para este sector – diz mais do estado da concorrência da Apple.
Schiller explica que o sistema de educação dos Estados Unidos, podendo nós assumir o mesmo do nosso, está a desmembrar-se ao tentar lidar com aulas com cada vez mais alunos, orçamentos reduzidos e outras questões que vão desde problemas de comportamento à falta de motivação por parte dos alunos, cujos pais têm pouco ou nenhum tempo para os acompanhar.
Aqui está a grande oportunidade para a Apple, pois não só o iPad revelou-se a ferramenta ideal para aprender como também é o gadget mais desejado pelos adolescentes. As suas características são ideias para este tipo de utilização – leve, fino, bateria que suficiente autonomia, processamento rápido, cool e altamente intuitivo.
E qual seria o pai que não comprava um iPad aos seus filhos para ajudar na sua educação. Com este passo, a Apple tornou um objeto desejado mas perfeitamente dispensável para algo capaz de melhorar as hipóteses dos nossos filhos terem um melhor e promissor futuro.
Schiller reforça a urgência em “alguém” tomar as rédeas e iniciar um processo de mudança – é que os Estados Unidos estão em 17º lugar na leitura, 21º em matemática e 23º em ciências. Schiller explica que “a verdade é, se é um estudante no liceu nos Estados Unidos, não é fácil. Se é um dos sortudos que tem a sorte de trabalhar arduamente e acabar a licenciar-se, poderá não estar preparado para competir no ambiente global”.
Sempre me disseram que quem utiliza “a verdade é” numa frase, normalmente segue com uma mentira. Mas aqui ficamos indecisos pois isto é afinal um espetáculo da Apple. A utilização da palavra sorte confere aos pais um sentimento de falta de controlo sobre o destino – qual o pai que quer deixar o futuro dos seus filhos na mão da sorte? Não quero ser cínico pois acho que mais uma vez, a Apple vai produzir algo extraordinário, mas parece-me algo esticado utilizar estas estatísticas como razão da verdade. Até porque nos obriga a perguntar se os países que vêm em primeiro lugar têm todos iPads.
Seja como for, Apple anunciou hoje iBooks 2, explicado como “a nova experiência de livros escolares para o iPad. Os adolescentes estão a ficar mais inteligentes graças aos tablets, sejam eles mais velhos a estudarem para os seus exames finais, ou simplesmente a interagir com o jogo da Dora” remata Schiller.
E fica aqui mais uma forma da Apple aumentar o seu volume de vendas, a sua posição como líder nos tablets e deixar novamente a concorrência baralhada com o que acabou por ser anunciado. Estranho pois já todos sabíamos há muito tempo o que a Apple iria fazer neste sector – só faltava fazer, e hoje chegou o dia em que o anunciou.
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