Mobile Internet

Dois Erros Colossais: A Internet e Agora Mobile

Nas ultimas décadas, a tecnologia e a inovação, foram ambas responsáveis por dois erros colossais, não necessariamente para quem os utiliza, mas sim para quem os criou, para quem tenta lucrar com eles e para quem sente a necessidade de os controlar: a Internet e Mobile.

Nas ultimas décadas, a tecnologia e a inovação, foram ambas responsáveis por dois erros colossais, não necessariamente para quem os utiliza, mas sim para quem os criou, para quem tenta lucrar com eles e para quem sente a necessidade de os controlar: a Internet e Mobile.

A Internet surgiu, ironicamente, do orçamento de defesa dos Estados Unidos. Um sistema de comunicação capaz de sobreviver um ataque nuclear. Para todos os efeitos, a rede (network) era composta de outras redes (networks) todas interconectadas através de protocolos que ninguém controlava. Em 2011, 2.2 mil milhões de pessoas (1/3 da população) utilizava este fenómeno.

Mas o mundo não estava à espera, nem pronto, para lidar com algo que não era controlado por um país, uma empresa e/ou um ponto central. E isso é o grande segredo do seu sucesso. Tudo o resto acaba por sofrer, muitas vezes por ser um single point of failure.

Mas é a falta de controlo que faz com que governos, políticos e organizações tradicionalmente poderosas, temam o seu futuro. A Internet não foi responsável pelas inúmeras revoluções mas a Internet facilitou a comunicação, a interconectividade e acima de tudo, a força espiritual para ir contra uma força maior.

Enquanto os países e os seus governos lutam isoladamente, e em alguns casos, em conjunto, para diminuir o poder da Internet (do povo), as massas reagem e as suas vozes são ouvidas. Legislação vai sendo passada mas em quase todos os casos, testada e reescrita. Pequenas derrotas que políticos acreditam conseguir reconquistar mais tarde. Até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não consegue dormir bem, ao saber que ele ainda não tem um botão que possa desligar a Internet de imediato – já esteve mais longe.

É muitas vezes na falta de visão dos políticos, que se encontra as maiores oportunidades. Enquanto se preocupam com questões do dia, da segurança do seu país e por fim, na sua futura carreira, alguns outros pequenos (grandes) detalhes passam ao lado.

Há anos que se diz que mobile chegou mas só no inicio de 2012 é que quem apostou no seu sucesso acordou para uma realidade que não esperava. Mobile chegou, e mais uma vez é controlada por demasiadas entidades, ou seja ninguém a controla verdadeiramente.

Mas o problema com mobile vai mais longe. Um monstro que Silicon Valley ajudou a criar, acreditando que mais tarde iria ficar rico com o mesmo. Mas nem as mentes brilhantes se aperceberam que iria ser tão difícil cobrar pelos seus serviços, serviços esses que se tornam mais caros a fornecer, com cada utilizador que se junta à Internet, através de um dos seus dispositivos mobile.

Facebook, com mais de mil milhões de utilizadores, aqueles que visitam Facebook pelo menos uma vez por mês, tem um outro grande problema. É que 60% dos acessos são agora através de mobile – e está sempre a crescer. Para uma empresa que supostamente iria resolver o seu modelo de negócios através deste novo/velho meio, alguém esqueceu-se de pensar, observar e prever. Fácil para nós agora o dizer, mas também não somos nós os novos rock stars de Silicon Valley, os multimilionários ou até os bilionários da tecnologia.

Agora, Facebook tenta fazer dinheiro com mobile, mas dado o tamanho de real estate, espaço no ecrã, as suas opções estão demasiadamente limitadas, não tanto pelo espaço do ecrã, mas pelo espaço que deixaram para a publicidade – no caso de smartphones – nada, zilch, zero.

A “solução” é então os sponsored stories, uma tentativa desastrosa de conseguir fazer os seus utilizadores e as marcas pagarem para serem vistos e ouvidos. Esta estratégia nunca funcionou, e não será certamente esta a exceção.

Por um lado, vão nos aparecendo posts (publicidade) pagos para nós vermos, por outro, Facebook vai fechando a mangueira de informação a todos fazendo com que somente 10-15% dos nossos posts tenham a possibilidade de serem vistos por quem optou para os ver. Um castigo?

Milhares são as empresas que ainda acreditam que estão a fazer algo mal, pois com 100,000 seguidores, somente 10,000 têm alguma possibilidade de verem o que procuram. Mesmo aumentando a palha que todos adoram partilhar, o resultado é frustrante para muitos. A única opção é comprar.

Mas o problema está no facto que Facebook não tem um infinito numero de posts pagos que possa colocar. O resultado não é positivo – ou aumentam os preços, ou aumentam o numero de posts pagos – nem um, nem o outro, vai resolver o seu problema.

Twitter sofre do mesmo, tendo escolhido ir por outro caminho. Por um lado, acabou por fazer o mesmo, fechando a mangueira de dados a todos os developers que foram cruciais no sucesso deste serviço. Mas este serviço não é, ao contrario do que muitos acreditam, um serviço publico. O objectivo do Twitter agora, ironicamente, é de forçar os seus utilizadores a voltarem à Web e abandonarem mobile – tarde de mais. Twitter também sofre de um espaço limitado para colocar a sua publicidade em dispositivos mobile.

Podíamos acreditar que Google, o grande mestre de publicidade online, estaria numa posição diferente. Mas os co-responsáveis pelo crescimento de mobile, através do seu sistema operativo Android, acabaram por se canibalizar a si próprios, pois os seus anúncios valem, no mobile, 40% do valor tipicamente conseguido online no tradicional desktop. Os seus resultados do ultimo trimestre demonstram o problema que enfrentam num futuro muito em breve. Mas nada disto deveria ser grande surpresa para a Google – como é que vamos seguir um link de publicidade para uma pagina, que não deve estar preparada para ser visionada num smartphone, para depois comprarmos algo?

Muitos destes erros advém de uma estratégia errada cultivada no mindset de Silicon Valley, que conseguiram o transportar para outros polos de tecnologia. Primeiro vem o trafego e os utilizadores e só depois é que se resolve a questão do retorno financeiro.

Na ultima conferência de startups, o Pioneers Festival, verifiquei uma mudança interessante. Muitas das preocupações dos VCs, investidores, centravam-se não no numero de utilizadores mas sim na forma como esta nova geração de startups vai fazer dinheiro. Afinal, eles, quem investe na tecnologia, querem saber agora como vão ter retorno. E a solução de compra por uma empresa grande de tecnologia, já não é equacionada – o tal exit strategy.

Boas noticias para o utilizador, que poderá continuar a usufruir de todos estes serviços, mas más noticias para quem inova nesta área. O investimento está a diminuir, os novos starups são cada vez mais, e os utilizadores estão sujeitos a alterações dos pressupostos iniciais quando os mesmos não devolvem o retorno pretendido.

Melhor mesmo é continuar a ajudar o Facebook, Twitter, Google e todos os outros, colocando a nossa informação online, mas ciente que a qualquer momento as regras vão mudar e vamos acabar por pagar de uma forma ou outra.

“If you are using a free product, YOU are in fact the product.”

A Internet e Mobile foram de facto dois erros colossais que vieram beneficiar nos a todos, os utilizadores, mas devemos estar atentes pois os sectores governamentais e empresariais não gostam destes erros, e estão todos focados em remedia-los, para o seu bem. Isso é raramente bom para nós.

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