Seth Godin Weird

Somos Todos “Weird” Conforme Seth Godin

A revolução industrial criou todo este enriquecimento, uma cultura que lhe rodeia, criando estandartes, escolas publicas e expectativas. Mas o que ele se apercebeu, foi que o mais traiçoeiro de tudo isto, foi a criação de um estandarte conhecido como o normal.

Seth Godin Weird

Seth Godin lançou o seu ultimo livro intitulado “We are all Weird.” Seth Godin é uma daquelas pessoas que não necessita de uma introdução dado que a maioria das pessoas que leem o Tudo Mudou certamente já conhecem o seu blog.

O seu mais recente livro faz parte do Domino Project que visa revolucionar a industria de publicação de livros, alterando a forma como os livros são feitos, vendidos e partilhados, tudo em parceria com a Amazon.

Godin tem muito carinho por este livro sendo que ele muitas vezes diz que esta foi a primeira vez que teve uma grande ideia que lhe chegou num só, tudo um resultado de outros trabalhos que tem desenvolvido em torno da ideia que com o  fim da era industrial veio uma nova era.

A revolução industrial criou todo este enriquecimento, uma cultura que lhe rodeia, criando estandartes, escolas publicas e expectativas. Mas o que ele se apercebeu, foi que o mais traiçoeiro de tudo isto, foi a criação de um estandarte conhecido como o normal.

Na nossa sociedade produzimos coisas numa fabrica e por omissão, temos que escolher o modelo que vamos produzir, tendo que escolher se o volante fica do lado esquerdo ou direito, se o carro tem mudanças automáticas ou manuais. Mas na realidade, o que os acionistas querem é, para que todos nós, consumidores, sejamos normais. É que o normal torna-se assim mais eficiente.

Subsequentemente, o marketing massificado implica ter um anuncio que agrada ao maior numero de pessoas possível. Criou-se um imperativo cultural que quase nos obriga a ser normal, mas para contrariar este movimento, veio a Internet revolucionaria tudo e mais, possibilitando-nos a fazermos o que queremos, ou seja sermos weird (esquisitos). Queremos todos algo que não é vendido em massa, queremos todos ir de férias a sítios onde outros não vão e queremos todos ter o gadget que os outros tanto procuram.

Neste mundo digital onde cada pessoa tem um microfone e todos têm o poder da escolha, as pessoas ou marcas que procuram o normal vai ser enfrentadas com um resultado invariavelmente desastroso.

Seth Godin tem por habito escolher palavras e dár-lhes um significado que nem sempre corresponde com o habitual. Godin acredita na importância das palavras e de lhes atribuir um diferente sentido – um que dê para explicar o que nos rodeia.

Godin escolheu palavras como weird e rich. Rich (rico) é normalmente assumido como a quantidade de dinheiro que cada um de nós tem. Outros acham que rich é ter suficiente dinheiro para saborear os luxos da vida. Godin redefine rich para que signifique ter suficiente dinheiro para poder usufruir da escolha. Ou seja, depois de ultrapassarmos o nível de subsistência, estaremos no ponto onde podemos fazer escolhas.

Godin apresenta-nos no livro, logo no inicio, as quatro forças de weird:

  1. A criação foi amplificada. Godin conta que quando se iniciou no mundo editorial há 25 anos, o normal era de 30 livros (business) serem editados por semana. Hoje em dia, esse numero subiu para 500 livros (business), e se incluirmos os e-books, passa a ser 5,000. Este é o resultado da voz que todos adquiriram.
  2. A segunda força reflete-se no facto de que quando somos ricos, temos a possibilidade de fazer o que queremos e assim sendo, podemos ser weird. Godin acredita que esta é a razão pelo qual o mundo torna-se cada vez mais pequeno pois quando alguém entra a classe média, ganham a possibilidade da escolher o que podem comer, o que guiar e onde viver. Antes de chegar à classe média, já mais tiveram essa escolha.
  3. Marketing é algo que possibilita cultura e o que marketing pode agora fazer é não só estar nos canais tradicionais e massificados, mas também o marketing pode agora chegar aos werid através de diferentes canais e formas. Se pesquisar algo estranho, ou esquisito, vai certamente ser encontrado por um anunciante, permitindo-o comprar algo que antigamente seria impossível de satisfazer.
  4. Tribes (tribos) estão agora ligados de forma mais eficaz. Quando se encontra sozinho a ter um momento de weirdness, é fácil do mesmo gradualmente desaparecer. Mas quando estamos cercados por outros que têm partilham do mesmo weirdness, o próprio weirdness é amplificado. O resultado é que estes tribos tornam-se cada vez mais poderosos, impulsionando este ciclo.

Um ótimo exemplo de weirdness e o poder do tribo em vídeo:

httpv://www.youtube.com/watch?v=fW8amMCVAJQ

 

No mundo das associações de caridade, Godin explica melhor este conceito. No mundo do apoio, quando alguém se esta afogar, atira um colete salva-vidas pois caso não o faça, a morte é iminente. O problema com o apoio, ignorando aqui o facto que o mesmo não é escalável, é que resulta numa interminável emergência de pobreza. Ao atirar um colete salva vidas para uma pessoa que vai necessitar do mesmo no dia seguinte, o problema é bem maior e impossível de solucionar assim.

A alternativa é o conceito do intercâmbio. Este negocio acaba por ser, nada mais, nada menos, que uma transação e ninguém se envolve numa transação se não tiver a tirar partido do mesmo. O exemplo que Godin dá é de vender um lanterna que utiliza a energia solar a um preço inferior ao que gastam num ano em petróleo, com o beneficio de não poluir, não resultar em cancro e não correrem o risco da sua casa arder. Isto porque existem acima de 1 bilião de pessoas que após o pôr do sol, ficam todas às escuras.

Este modelo de transação faz com que todo o poder da escolha seja transferido para quem necessita de ajuda. E com tempo, este alteração de mindset permite às pessoas que saião mais rapidamente da pobreza – inúmeros projetos na Índia e Quénia têm se revelado verdadeiramente inovadores no combate à pobreza.

Godin fala-nos também da política dos Estados Unidos, mas como conceito, de igual forma relevante noutros países. O paradoxo da política dos EUA é que por definição, um candidato eleito pela popularidade quando a maioria vota, tem que ser obrigatoriamente normal, não existindo manobra para weirdness.

Mas ao mesmo tempo, tudo na nossa cultura está a reforçar a existência de grupos dissidentes. Os políticos ficam assim presos entre a maioria que os elegeram, em grupo, e as necessidades de cada um ou de grupos com interesses muito específicos mas variados – normal vs. weirdness.

O próprio processo de eleição é complexo começando com uma voz que vai ao encontro do weirdness, com tempo é obrigado a mudar para se enquadrar com as expectativas da maioria para depois ser confrontado com todos os diversos grupos e interesses após a eleição e subsequente lua de mel. É impossível. Inevitavelmente, muito popular que o político seja, vai acabar por desiludir tribos vocais, seguido de mais tribos vocais – eis o atual estado da popularidade do Presidente Obama. É que vivemos tempos turbulentos em que qualquer um dos tribos está disposta a fazer cair o poder se o mesmo servir os seus interesses.

Depois da caridade e política, vem a educação e a necessidade não de uma evolução mas sim uma revolução.

Godin defende que as fabricas foram uma revolução dos anos 1880 pois a maioria vivia nas terras em quintas, geriam os seus horários e usufruíam da sua própria liberdade. As fabricas fizeram com que as pessoas deixassem as suas casas, mudem-se para um apartamento lotado e trabalhassem 12 horas num local escuro e perigoso. Existe documentação que demonstra o impacto deste período no Reino Unido – durante 20 anos a maioria viveu num estado embriagado, pois era a única forma de conseguirem resistir ao seu dia.

Foi aqui que os adolescentes começaram a trabalhar pois eram mais baratos, mais obedientes e foi de facto o Ku Klux Klan que lutaram contra este principio para que os adolescentes fossem para escolas publicas. Mas as suas razões não eram das mais nobres – afinal os adolescentes estavam a ficar com os seus empregos.

Foi assim que nasceu o sistema das escolas publicas que obrigavam os adolescentes a irem para estes novos locais, para aprenderem a sentarem-se em filas, serem tratadas como um lote, seguirem as ordens e conformarem-se com o que era exigido. O resultado desejado era de terem as capacidades suficientes para seguirem de imediato para as fabricas.

Ainda hoje em dia, temos estes princípios embutidos no nosso sistema de educação. O mesmo principio da fabrica foi, e continua a ser aplicado – testar, medir e melhorar – como se fossem peças numa linha de montagem. As escolas tornaram-se assim unidades que deviam, cada vez mais, criar unidades testadas e optimizadas. Não seria muito mal caso não necessitássemos de um outro tipo de resultado. O que na realidade necessitamos presentemente é o oposto.  Se analisarmos as empresas em crescimento e as pessoas que fazem com isto seja possível, nenhum deles representa a unidade barata e uniformizada.

Já Sir Ken Robinson argumenta a necessidade de uma mudança radical da estandardização nas escolas para uma aprendizagem personalizada – de uma educação industrializada para uma educação de agricultura, onde se cria as condições para que os talentos naturais dos alunos possam florescer.

httpv://www.youtube.com/watch?v=r9LelXa3U_I

 

Godin remata com a questão de mobile e o facto que independentemente de estar a existir um crescimento em mobile, ninguém o quer pois o anuncio passível a ter algum sucesso em mobile vai ter que falar a cada uma pessoa que é cada vez mais weird. E no marketing, não se quer isso. Porquê? Porque um anuncio mobile só terá sucesso se for ao encontra das necessidades do consumidor que raramente vai ao encontro da marca.

Ao entrar numa loja, se recebêssemos uma alerta que a loja ao lado tinha o mesmo produto mas a um preço inferior, o consumidor certamente iria adorar, mas seria só mesmo o consumidor. Para todos os efeitos, as marcas estariam, ou irão estar, a perder novamente o controlo – controlo esse que na realidade já o perderam desde que a Internet tornou-se ubíqua.

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