Web Summit

Web Summit Dublin – Wrap Up

Se tivermos em conta o seu crescimento invulgar – 500 participantes em 2011 para 10.000 em 2013, para quem participou pela primeira vez, torna-se difícil compreender como foi possível este escalar exponencial com uma organização a tocar a perfeição.

Aquando da minha presença, no ano passado, na conferência Le Web, em Paris, contava já com alguma experiência a nível de participação, direta e indireta, em conferências. Deste modo, dei por mim a refletir, não sobre o conteúdo da conferência, mas sobre uma visão holística de tudo quanto rodeava a mega produção de Loic Le Meur – o francês que emigrou (fugiu da austeridade) para Silicon Valley.

Pouco tempo depois da realização daquela conferência, Loic e a sua mulher Geraldine venderam uma parte considerável de Le Web à marca Reed MIDEM por um valor não divulgado. Na realidade, Le Web, que celebrava uma década de existência, constituiu um início, um arranque auspicioso com um êxito retumbante para os fundadores, independentemente de continuarem envolvidos nas questões mais importantes da sua organização.

Web Summit teve tanto de semelhante como de diferente. Se tivermos em conta o seu crescimento invulgar – 500 participantes em 2011 para 10.000 em 2013, para quem participou pela primeira vez, torna-se difícil compreender como foi possível este escalar exponencial com uma organização a tocar a perfeição.

Web Summit é, atual e oficialmente, a maior e provavelmente, a mais importante conferência de tecnologia da Europa, tendo atraído, mesmo que à última hora, o mais importante empreendedor do presente – Elon Musk.

Não foi, pois, de estranhar, que percentagem considerável dos participantes tenha sido internacional, fundamentalmente, dos Estados Unidos, nomeadamente, de Silicon Valley. Todos foram à Irlanda, que faz parte dos PIGS, partilhando o I com a Itália. Não esqueçamos, porém, que a Irlanda é diferente e os Irlandeses ainda mais: o seu otimismo é invejável e não resta qualquer dúvida que vencerão (já o estão) na tecnologia.

À semelhança de Le Web, Dublin não está a criar um ecossistema com apoio governamental, usufruindo apenas da nova tendência de startups com todo o hype que a acompanha. Os Irlandeses encontram-se seriamente empenhados – na capital da Irlanda pode haver hype, mas há substância, condições económicas e apoios altamente favoráveis e, provavelmente, negociáveis – veja-se que o primeiro-ministro Irlandês esteve presente, porém não discursou protocolarmente, nem cumpriu a faceta que seria de esperar como parte do apoio do governo – norteava-o uma agenda muito concreta – fechar negócios.

No recinto do Web Summit, o otimismo e o futuro auspicioso excluiu qualquer conversa sobre o aumento agravado da dívida nos anos de maior austeridade – este é, provavelmente, o local na Europa com o mindset mais parecido a Silicon Valley.

Além do evento principal, decorreram, em simultâneo, mais de 100 eventos de networking, sendo que a primeira abertura do Nasdaq em direto do Web Summit, incluindo um discurso de oportunidade e celebração por parte do primeiro-ministro (Taoiseach) Enda Kenny, constituiu mais uma inusitada iniciativa.

Refira-se que Enda Kenny não perdeu uma oportunidade para “vender” o seu país como o novo Silicon Valley, inclusivamente, no meio da entrevista com a cabeça de cartaz Elon Musk.  Enda fez questão de deixar bem claro que a próxima fábrica do Tesla só poderia localizar-se ali – “Venham falar connosco que nós encontraremos uma solução. Os trabalhadores Irlandeses não vos deixarão ficar mal!” – Eu acreditei, e tal não aconteceu pelo facto de ambos terem entrado em palco num veículo Tesla verde que Elon trouxe no seu jato privado, especificamente para este evento.

Elon Musk

Entenda-se, porém, que acontecimentos desta escala não estão isentos do bullshit e de ruído, algo difícil de discernir para os recém-chegados a este universo: um pouco como ir à Disney World pela primeira vez – tudo nos seduz. No meio de todo este ruído, encontramos startups com empresas criadas, com produtos e serviços sérios e com toda a determinação para enfrentar o desafio da probabilidade de insucesso – 8 a 9, em 10, falharão. Enquanto todos procuravam a “next BIG thing”, provavelmente não se aperceberam que a própria conferência já é “the next BIG thing”, tendo catapultado Paddy Cosgrave, um dos dois fundadores, para o patamar do Irlandês internacionalmente mais influente.

Se analisarmos o que gera uma cidade tech hub – talento, infraestruturas, localização, sentido de comunidade e vantagens fiscais – Paddy não poderia estar mais bem localizado. Indubitavelmente, a sua personalidade foi a mais responsável pelo sucesso da conferência do que todos os restantes fatores, permitindo-lhe um palco seguro para a sua mega criação.

Não obstante, Dublin, tal como muitas outras cidades em países com um deficit agravado, está a testemunhar uma migração de talento jovem, mediante as oportunidades que se afiguram além-fronteiras. Paddy não conseguirá resolver esta questão sozinho, ainda que Web Summit traga, novamente, uma esperança que poderá bem inverter este fluxo de talento de 20-somethings para outras economias internacionais – no evento foram anunciados 335 novos postos de trabalho na tecnologia.

Infelizmente, a tecnologia não é, por norma, uma indústria que empregue um número suficientemente relevante capaz de inverter o trajeto de uma economia. Através da manutenção de talento novo na Irlanda, criar-se-ão empresas que necessitarão de mais talento. A grande esperança é, de facto, a reincarnação do hardware. Testemunhámos um crescimento de SaaS, software as a service, mas nos últimos anos, voltámos a ver empresas a apostarem no hardware. É aqui que poderemos ver uma verdadeira oportunidade de emprego, se conseguirmos baixar o custo de mão-de-obra.

Web Summit teve algumas surpresas como Leonard Kleinrock, que nos relembrou que existem muitos profissionais responsáveis pela infraestrutura da Internet, permitindo um mundo de oportunidades – como a cultura de um país é importante para percebermos de onde viémos e para onde vamos, o passado da Internet é-o igualmente importante, até para percebermos que existe mundo para além de Steve Jobs, Bezos e Zuckerberg.

Num evento desta dimensão, o difícil foi não desejar o dom da ubiquidade – conseguir estar presente em todos os diferentes palcos era pois a vontade, portanto, decidir, escolher algo muito bom em detrimento de outro algo de qualidade comparável tornou a decisão penosa. Por muito que fosse aconselhável ter tudo organizado antes de ir para o evento, encontrei algumas pessoas que nada tinham planeado, nem sequer pensado em encontrar – um pouco como a serendipity da Internet – a surpresa de encontrar algo inesperado – tendo preferido fruir da verdadeira descoberta por via da casualidade.

Photo: Web Summit/Flickr

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