Uma das tendências para o ano 2013 não é somente mobile, mas sim a utilização de todos os sensores que agora estão disponíveis nos smartphones para serem utilizados pelos apps bem como o próprio sistema operativo, seja ele iOS, Android ou Windows.
Os smartphones vêm com 7 sensores já algum tempo e os mais recentes com 9, incluindo acelerômetro, barômetro, GPS, microfone, câmara, bússola, giroscópio, para fornecer dados sobre altitudes e padrões climáticos. Oakley, que fabrica os Airwave Goggles, inclui um heads up display (ecrã transparente) que lhe fornece informação como por exemplo, a quantos metros verticais está a esquiar, bem como velocidade e disponibiliza o seu trajecto para analise.
Algumas empresas estão já a desenvolver outros sensores que podem medir a sua transpiração, frequência (ritmo) cardíaca, pressão arterial e salinidade. A utilização destes sensores abre caminho para uma constante monitorização do nosso corpo, em tempo real – Health Monitor. Está suficientemente ativo? Está a necessitar de ir ao médico? Só espero que seja melhor que o computador de bordo do meu carro.
Nike Fuel Band, têm sensores bem como o Fit Bit, mas os sensores são utilizados em qualquer ambiente e nas mais variadas das circunstâncias. O termóstato Nest, já utilizado por milhões de Americanos, tem vários sensores, para lhe controlar a temperatura numa sala, ou casa, reconhecendo quando está ou não em casa e quando sai.
Sempre que falamos nos avanços tecnológicos, algo surge sempre como contra argumento – a nossa privacidade. Para a minoria de pessoas que lidam com tecnologia como hobby ou por questões profissionais, a questão de privacidade parece ser menos problemático – assumimos viver num mundo em que somos totalmente transparentes e acessíveis a todos, moldando a nossa persona online de forma a não expormos o que não queremos que seja publico.
Mas a tecnologia torna-se cada vez mais enraizada no que fazemos, algumas vezes criando um falso sentido de proteção. Frictionless sharing, é um dos desafios, em que alguns serviços que utilizamos partilham tudo que fazemos. Com tempo, quase como se tivéssemos na casa dos segredos esquecendo a existência de câmaras, o utilizador perde a percepção da sua total partilha.
Num futuro em que a tecnologia está embutida no nosso quotidiano, vamos ter que trocar a privacidade pela utilidade. Um exemplo é Google Now que presentemente lhe proporciona informação importante consoante o nível de acesso que lhe dá. Se lhe der acesso ao seu Gmail e calendário, bem como localização, pode saber como vai estar o tempo antes de começar o dia, o transito que pode esperar encontrar a caminho do trabalho, quando tem que sair para a próxima reunião ou até informação sobre a sua equipa preferida.
Acesso ao seu email fornece um ilimitado numero de dados que permite lhe simplificar o dia mas esse acesso é a todos os emails que envia e recebe. Tem problema com isso? Perde utilidade.
Quanto mais informação partilhar, mais utilidade vai ter. A escolha é sua. Nem sempre se trata de uma mera utilidade. No caso de um passageiro que estava no avião à espera para iniciar a sua viagem, Tripit informou-lhe que esse voo estaria cancelado e deu-lhe acesso ao próximo voo onde só existiam mais 3 lugares. Quando o avião voltou para o seu ponto de partida, o comandante anunciou o cancelamento do voo. Este passageiro, que para todos os efeitos concorria com outros 188 passageiros para 3 lugares disponíveis no ultimo voo do dia, ganhou – algo só possível com a utilização de tecnologia e partilha de informação com terceiros.
Jonathan Schwartz, antigo CEO da Sun, tem uma opinião um pouco diferente sobre questões de privacidade:
“Privacy is a right, not a privilege. And unless I give you explicit permission to gather, distribute or use my family’s information, you are forbidden to do so.”
Schwartz acredita que deverá existir mais transparência, por parte daqueles que recolhem dados pessoais dos seus utilizadores, mas que a responsabilidade é também do utilizador de não aceitar de animo leve, os pedidos de acesso a informação que não condiciona a utilização do serviço – por exemplo um app para ouvir música que requer acesso aos seus contactos. Mesmo que tenha um aspecto social, não pode, nem deve, ser uma obrigação.
Mas o trade-off (utilidade vs. privacidade) tem que passar a ser explícito, independentemente de ser um app, um serviço ou uma rede social. Os utilizadores têm que ser informados sobre o que recebem mas também o que estão a ceder como contra partida. Todo este processo deverá ser coerente, ficando claro para onde a sua informação vai. Uma coisa é ceder informação a Google, outra é ter essa informação disponibilizada a terceiros.
Schwartz novamente:
“it’s time we take responsibility for all our data, and reject the increasingly confusing array of privacy waivers designed to strip our control or rights. To be clear, I don’t blame the social media companies, they’re behaving rationally. After all, companies don’t have ethics, people do.”
Presentemente, ainda estamos no inicio de uma profunda mudança de paradigma e é nesta altura que temos que discutir esta questão de privacidade vs. utilidade. Com cada nova utilidade, nós mudamos o nosso comportamento, forçado muitas vezes pela pressão dos nossos amigos, familiares e influenciadores.
Estamos numa competição continua para ter acesso a recursos muitas vezes escassos, desde um lugar limitado de reservas num restaurante ao exemplo que demos de 3 lugares em que 189 pessoas teriam a necessidade dos ocupar. Esta competição contínua, muitas vezes força-nos a aceitar termos e condições que em circunstâncias normais, seria o suficiente para abandonar logo o serviço.
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[…] tecnologia mudou e como sempre, as pessoas também. Hoje em dia, a maioria prefere substituir a sua privacidade pela utilidade, muitos sem aperceberem se das possíveis […]